quinta-feira, 22 de abril de 2021

Entrevista a Bernardino Machado

 

Olá, nós somos os alunos do quarto ano da escola de Outiz.

Como estamos a estudar a vida de Bernardino Machado, decidimos construir uma máquina do tempo para viajar até 1944 e entrevistar este famoso famalicense. Chegamos a Paredes de Coura e encontramos Bernardino Machado a descansar na sua poltrona, junto à lareira. Com um ar cansado, mas doçura nas palavras, ele recebeu-nos e respondeu às nossas perguntas.

 

- Caro senhor Bernardino Machado, quais são as suas origens?

- Meus queridos meninos, eu nasci na cidade do Rio de Janeiro, no Brasil, em 1851. O meu adorado pai era português e a minha preciosa mãe era brasileira.

 

- Sabemos que veio para Portugal muito novo. Como foi a sua infância?

- Foi uma infância muito feliz, vivida em dois países. Até aos oito anos vivi no Brasil, mas depois tive de viajar com os meus pais para Portugal. O meu pai, o Barão de Joane, levou-me para a sua terra onde cresci e pouco a pouco fui-me tornando cada vez mais português e menos brasileiro.

 

- E como foi a sua vida de estudante? Gostava da escola?

- Eu era um aluno trabalhador e esforçado. Adorava aprender. Algumas pessoas diziam que eu era um aluno brilhante. Comecei a estudar no Porto e aos quinze anos entrei na Universidade de Coimbra para estudar matemática e filosofia. Eu adorava a escola. Foi graças a ela que aprendi tantas coisas sobre o Homem.

 

- Ouvimos dizer que era um bom pai. Pode falar-nos sobre a sua vida em família?

-Eu tenho uma família muito grande. Casei com trinta anos com a minha amada Elzira Dantas. Ela tinha dezasseis anos quando casou comigo e ajudou-me a criar dezanove filhos e ainda conheci quarenta e sete netos. Adorei ser pai. Brincava com os meus filhos, tirava-lhes fotografias, mas estava sempre a trocar-lhes o nome. Imaginem como era na hora do almoço: “Oh… filhos e filhas, vinde comer!”

 

- Qual foi o seu maior desafio como educador?

- Eu tive mais do que um desafio que acho importante referir. Aos vinte e oito anos fui convidado para ser professor catedrático na Universidade de Coimbra. Ensinei a disciplina de antropologia, pois sempre me interessei pelo ser humano. Como sempre acreditei que a educação é para todos, criei as primeiras escolas para cegos, surdos e mudos; abri o ensino para as meninas e para os pobres e criei os primeiros cursos profissionais que ensinavam uma profissão.

 

- É verdade que foi monárquico e republicano? Como é que isso é possível?

- Eu comecei a minha carreira política como deputado e ministro do rei. Esta era a única maneira de conseguir mudar a sociedade para melhor. Mandei construir faróis ao longo da costa portuguesa para evitar mais desastres marítimos. Decidi ligar Portugal Continental e os Açores com telégrafo para acelerar a comunicação com as ilhas. Em 1903, eu estava tão descontente com o rei que decidi aderir ao partido republicano. Sete anos depois eu era um dos pais da jovem República que ajudei a nascer.

 

- O que se passou durante a primeira república? Foram anos agitados…

- Ui… Agitados? Foram mais do que agitados. Foram anos difíceis! (Disse, com uma lágrima a escorrer pelo rosto) Para mim foi muito duro, mas para o país foi pior. Quarenta e cinco governos e oito presidentes em dezasseis anos… Greves e revoltas por todo o país… E o nosso exército a morrer na Primeira Guerra Mundial… Mas o pior de tudo foi a traição do meu ex-aluno Sidónio de Pais... Roubou-me a Presidência da República e condenou-me ao exílio em Espanha e França. Só consegui voltar à minha pátria amada em 1919. Pela segunda vez fui senador, chefe do governo, Presidente da República, deposto e exilado! Em 1926 assisti ao final da primeira República com a revolta do general Gomes da Costa. Mais uma vez parti para o exílio.

 

- Também ficou conhecido como um resistente à Ditadura de Salazar. Como foram esses anos?

- Como não podia lutar porque estava no exílio, escrevi muitas cartas para denunciar os malefícios da ditadura e para lembrar aos portugueses que poderiam ter uma vida melhor. Em 1939 começou a Segunda Guerra Mundial e eu e os outros exilados voltamos para Portugal. Mas Salazar não me deixou voltar para casa. Tive de ficar aqui, em Paredes de Coura, na casa do meu sogro. Há quatro anos que vivo aqui, no meio destas lindas montanhas. Sinto-me cada vez mais cansado e doente, mas ainda penso que o mais importante é a verdade. “Busque-se a verdade, não para a fechar e deter como um mistério, mas para enriquecer com ela, o património comum.”

 (O seu rosto iluminou-se num belo sorriso)

 

- Estamos muito agradecidos pelas suas respostas, pela sua disponibilidade e simpatia.

- Foi um prazer conhecer-vos e responder às vossas perguntas. Deem um grande abraço aos vossos pais, não se esqueçam de estudar muito, defendam sempre os vossos direitos e nunca se esqueçam de dizer sempre a verdade.

 

Entramos na nossa máquina do tempo, marcamos o ano de 2021 no relógio e voltamos para casa contentes por conhecer este ilustre famalicense. Para terminar a nossa investigação combinamos encontrar-nos no cemitério do Moço Morto, em Gavião, Vila Nova de Famalicão para deixar uma flor no seu túmulo.  

 


Texto coletivo, baseado na maleta pedagógica: Museu Bernardino Machado.

Alunos do 4º ano da EB1 de Outiz (2020/2021)

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