Homófonas
– Gémeas Falsas
Num belo dia, na escola, as
crianças contentes brincavam no recreio. Após a sineta tocar, a professora
chamou:
- Meninos, é hora de entrar!
- Que chatice, preferia brincar
mais um pouco… - resmungou a Clara guardando a sua boneca.
- Clara, há hora para tudo!!! Cumpre as ordens! Ora brincas, ora estudas …
- Professora, quer que eu
reze?!? Orar?!?
- Nada disso! Hora de entrar, está no teu horário e, por isso, escreve-se
com “h”. Ora, sem “h”, pode ser,
realmente, orar de oração ou
uma conjunção. – elucida prontamente a professora.
As crianças entraram e… As homófonas saltaram
da gramática de uma menina! Pareciam dançar animadamente aos pares, em cima das
mesas dos alunos. Esta gramática era especial! Era uma gramática que parecia
ter magia!... Palavras com vida!...
- Uau!... Nunca vi isto!!!!! Um
livro tão enfadonho, que interessante se tornou! - disseram algumas crianças.
A professora Maria da Paz aproveitou a presença das homófonas
bailarinas para rever e distinguir palavras tão parecidas! Pareciam “gémeas”
mas… “falsas”!!!
No quadro estava escrita uma
frase, mas não tinha grande sentido… Faltava qualquer coisa…
- Faltará um acento?! – interrogou a professora.
- Qual?!? Eu ou ele?! Estamos
aqui! – questionaram, em coro, o Acento
e o Assento.
- Eu quero saber qual o acento
para a palavra “pás” de usar na
terra, para fazer buracos e plantar pimentos... – esclareceu Paz, a professora.
O Francisco, distraído, perguntou:
- Professora não tem assento, para se sentar?.. A sua
cadeira?
- És sempre o mesmo rapaz… Sem
atenção! Só podias ser tu!… Não vês que estamos a falar de palavras homófonas?
Alguns alunos mais perspicazes esclareceram
logo a diferença entre as duas palavras:
- Professora, já sei! Assento com dois “ss” é de sentar no sofá, na sanita…
E acento com “c” é de acentuação das palavras!
- Muito bem meninos! Nota-se
que estão atentos!
- E nós não falamos?! – perguntaram,
indignadas, as homófonas Era e Hera.
- Nós quem?!? – perguntaram os alunos.
- Até eu já comia uma deliciosa noz!… - exclamou a Clara.
- Aprende: “noz” com “z” é de comer, lembra-te de
cozinha… Com “s” somos nós todos, primeira pessoa
do plural dos pronomes pessoais!-
elucidaram as “gémeas falsas”.
- Somos a: Hera e Era! … Eu com “h”,
Hera, sou uma planta trepadeira, …
- E eu, sem “h” posso ser usada
em: “Era uma vez…” o início de uma
bela história!
Os alunos não cabiam em si de
contentes e sussurravam, para não as assustarem:
- Uauuu!!! Palavras falantes! Fico
a perceber isto muito melhor!
- Se continuarem a portar-se
bem, levo-vos ao concerto do Quim Barretes!
– prometeu a professora.
- Ao quê? Oh professora… Mas
afinal o Quim Barretes canta ou faz consertos?!?
Ainda ontem o meu pai levou os meus sapatos
de sapateado ao sapateiro.
- Mas que confusão rapaz!
Presta atenção ao que te digo! Esse conserto
de que falas é com “s” de saia,
sapato, sapateiro! O concerto
do Quim Barretes tem músicos com concertinas,
cavaquinhos, clarinetes, castanholas, acordeão
e, por isso, se escreve sempre com “c”! – esclareceu a professora Maria da Paz.
No sábado seguinte, a
professora, como prometido, levou os seus alunos ao concerto do Quim Barretes. Que animação!
Logo à chegada deu-lhes um conselho:
- Quero tudo em grupo para não
se perderem! Devem estar sempre juntos… Lembrem-se que, neste concerto, está o concelho de Famalicão em peso!
As palavras homófonas que tanto
gostavam de dançar, não faltaram à festa e, escondidas, no bolso, de um dos
alunos esclareceram:
- Conselho com “s” vem de alguém com sabedoria, que tem palavras sábias… Mas que grandes sabichões
são estas crianças! Já concelho com
“c” é uma cidade aonde estão
associadas várias freguesias.
Todos se estavam a divertir
muito!!! Um verdadeiro espetáculo! Até que alguém se apercebeu que estava um
homem nu, a dançar no meio da multidão.
- Professora, professora!.. Ele
está nu…nu… nu… - gaguejou um
aluno.
- Eu sei, no meio da multidão!
- Não, professora, está nu, nu,… de nudez!
A professora, admirada, olhou, e
alertou para as cenas que algumas pessoas fazem quando exageram nas bebidas
alcoólicas.
Entretanto, todas as atenções
se voltaram novamente para o palco, quando do acordeão apenas se ouvia um
grande ruído… não havia boa sonoridade!
O Quim Barretes, descontraído
como é, mandou parar o concerto e
foi averiguar o que se passava. Verificou que um pequeno rato, saltou do
acordeão.
- Mas… o que é isto? Que estás
aqui a fazer?... Não é um concerto
para roedores! AH!... Deixou o acordeão roído!!!
Sem demora, pediu ao seu
assistente:
- Zé, anda cá Zé,…procura
alguém que saiba coser o instrumento
musical! Amanhã temos outro concerto!
Graças a Deus estás aqui para
resolver isto.
- Mas… Quim, estava só a acabar
de comer o meu “cozido à
portuguesa”, cá da região minhota! A cozinheira
teve tanto cuidado para o cozer! Hás
de ver a cozinha dela… é
fantástica! Mas, está bem, vou lá. Até logo, adeus.
O Quim Barretes remediou a
situação:
- Sem acordeão, será complicado… Mas com cem de vós a ajudar, a festa vai melhorar! – o músico pediu
colaboração da plateia.
E assim o concerto teve continuidade, com todo o público a bater palmas com
bom ritmo musical, acabando com um glorioso fogo-de-artifício…
No final, a professora e os
seus alunos iam para o autocarro. A confusão era muita!!! A professora
preocupada alertou os seus alunos:
- Não se afastem! Respeitem as
regras de prevenção rodoviária! Apenas podemos estar nos locais destinados aos peões!
- Piões?!? – interrogou intrigado o Paulo. - Não trouxe o meu pião…
- Não faças confusão! Tens de
nos saber distinguir! Pião com “i”
tem um pico em baixo para
rodopiar. Peão com “e” é de pessoas nas ruas e passeios. –
esclareceu rapidamente este par de homófonas.
Para estes alunos as homófonas
deixaram de ser uma confusão. Mas há mais, muitas mais!!!!
- Queres ser tu a continuar
esta linda história?!? - perguntaram as outras homófonas.